março 24, 2014

O «25 de Abril» e as Memórias da Guerra Colonial

António Coelho falou-nos sobre a Guerra Colonial
Durante os últimos 13 anos da sua existência, o governo ditatorial viu-se confrontado com as reivindicações de independência por parte das colónias africanas. Assim, em 1961 iniciou-se um movimento contestatário organizado pelos grupos de libertação das antigas províncias ultramarinas de Angola, Guiné-Bissau e Moçambique.

O regime do Estado Novo nunca reconheceu a existência de uma guerra, argumentando que o princípio pelo qual interveio nessas terras era o da defesa pela extensão do território português, ou seja, que os movimentos independentistas eram grupos terroristas e que as suas terras não eram colónias mas províncias, logo, parte integrante de Portugal.  Por sua vez, apoiados pelas instituições internacionais, como a ONU, os movimentos de libertação africanos aclamavam pela sua autodeterminação e independência.

É terça-feira, 18 de Março de 2014, e estamos sentados à espera do Sr. António que não só nos vai contar a sua experiência como militar, como também explicar o que realmente se passava naquelas terras tão longínquas.

Nascido em Angola, o Sr. António veio para Portugal muito cedo, não sentindo directamente os horrores da guerra. Contudo, lembra-se que os [seus] pais viviam preocupados diariamente pois tinham quatro filhos e o medo para que fossem chamados para ir para a guerra era constante lá em casa.


E se umas crianças mais espevitadas perguntavam curiosidades ao antigo militar, outras muito atentas, escutavam as suas respostas:  

Francisco: Morreram pessoas nessa guerra?
Sr. António (A): Infelizmente sim. Uma das grandes tristezas da guerra é a perda dos familiares. Existe um monumento em Belém que foi construído com o propósito de homenagear todos os combatentes da guerra do Ultramar. Entre eles, está o nome do meu primo, também militar, Augusto Lopes.

Francisco: Porque é que os militares foram para a guerra?
A: Na altura do regime ditatorial, a participação na guerra era obrigatória. Os que não queriam ir, às vezes tentavam fugir. A PIDE conseguia controlar muito bem a população e, infelizmente, muitos foram apanhados e presos.

David: Quantos militares se dirigiram a Lisboa para fazer o 25 de Abril?
A:  A acção organizada para derrubar o governo de Marcelo Caetano foi liderada pelo Movimento das Forças Armadas, constituído na sua maioria por capitães que tinham participado na Guerra Colonial. Vieram militares de todo o país! Vendas Novas, Santarém, Lisboa, Leiria e também nas terras ultramarinas. Todos estavam à espera do sinal para avançar!

Garcia: Quem planeou a guerra?
A: Nas colónias ultramarinas sempre existiram movimentos de oposição e resistência à presença de Portugal. Contudo, os primeiros confrontos começaram Angola, em 1961, e a partir daí, estenderam-se aos restantes territórios.

David: A PIDE lutou contra os militares quando se estava a dar o 25 de Abril?
A: É uma injustiça dizer que a Revolução dos Cravos foi pacífica. A polícia política disparou sobre um grupo que se manifestava à porta das suas instalações, matando quatro pessoas.

Garcia: O Sr. António andou na Mocidade Portuguesa?
A: Em Angola tínhamos de ir às aulas da Mocidade Portuguesa e só podíamos dar 5 faltas por ano. Como o meu pai não gostava desta organização, pôs-me nos escuteiros!

Como militar e amigo de muitos militares que participaram activamente na organização e mobilização do 25 de Abril, relembra o Sr. António, tive acesso a muitos episódios que nunca foram contados. Um deles passou-se com um amigo meu que estava a cumprir o seu serviço militar num Navio no rio Tejo. Nisto, recebeu ordens para disparar contra o grupo de militares comandado por Salgueiro Maia, um dos capitães mais importantes do Exército Português. Felizmente, o comandante do Navio não autorizou e ordenou que se levantassem todos os canhões, permitindo que os militares avançassem e realizassem os seus propósitos: pôr fim à ditadura.  

A Revolução dos Cravos no dia 25 de Abril de 1974 determinou o fim da presença portuguesa nas terras africanas. Com o esforço e ajuda militar das Forças Armadas Portuguesas foi possível anunciar a democracia e a independência destes povos!











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